Israel dá luz verde ao reinício das negociações com o Hamas

por Cristina Sambado - RTP
Marko Djurica - Reuters

O gabinete de guerra de Israel deu luz verde ao reinício das negociações com o Hamas para libertar os reféns detidos na Faixa de Gaza, onde o exército israelita realizou bombardeamentos no norte e no sul do território palestiniano esta quinta-feira.

Em comunicado, aquela estrutura ordenou à equipa de negociação que retomasse o seu trabalho, que tinha sido interrompido em 10 de maio, após uma tentativa de acordo no Cairo que Israel rejeitou.

A decisão surge depois de, na quarta-feira, o Egito ter ameaçado retirar-se como mediador do conflito entre Israel e o Hamas devido a acusações de ter feito uma má gestão da última ronda de negociações, que fracassou, segundo o jornal The Times of Israel.

"As tentativas de semear dúvidas e ofender os esforços de mediação do Egipto (...) só levarão a maiores complicações da situação em Gaza e em toda a região e levarão o Egito a retirar-se completamente da mediação no conflito", afirmou Diaa Rashwan, que atua como porta-voz do Governo egípcio.

O gabinete abre assim a porta a uma nova ronda de negociações, paradas desde 10 de maio, quando tanto Israel como o Hamas retiraram as suas delegações do Cairo, depois de não terem conseguido chegar a acordo sobre a proposta de cessar-fogo e troca de reféns por prisioneiros apresentada pela organização islâmica e pelos mediadores.

Na altura, o Hamas acusou Israel de devolver as negociações "à estaca zero", enquanto as autoridades israelitas disseram que os islamitas tinham modificado questões essenciais no acordo proposto já depois de o aceitarem.
Dos 253 sequestrados a 7 de outubro, 124 permanecem no enclave, 40 deles mortos segundo Israel e mais de 70 segundo o Hamas, embora haja quatro outras pessoas feitas reféns há anos, duas delas morreram.

Desde o início da guerra, Israel e o Hamas só chegaram a um acordo de trégua de uma semana no final de novembro, que permitiu a libertação de 105 reféns em troca de 240 prisioneiros palestinianos.

Além disso, quatro reféns foram libertados pelo Hamas em outubro, três foram resgatados pelo Exército - dois deles há algumas semanas numa operação bem-sucedida em Rafah -, enquanto os corpos de 17 foram recuperados, três dos quais foram mortos por engano pelas tropas israelitas.
Israel divulga vídeo de recrutas raptadas pelo Hamas
A divulgação de um vídeo de três minutos que mostra o rapto de militares israelitas por combatentes do movimento islamita Hamas, a 7 de outubro, durante o ataque sem precedentes contra Israel que desencadeou a guerra, também terá pesado na decisão de retomar as negociações.


A televisão israelita transmitiu na quarta-feira imagens anteriormente retidas de cinco recrutas do exército depois de terem sido capturada
s na base de Nahal Oz, no sul de Israel, por homens armados do Hamas durante o ataque de 7 de outubro.
As famílias dos prisioneiros, que autorizaram a divulgação, esperam que as imagens aumentem a pressão sobre o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para que chegue uma trégua com o Hamas que garanta a libertação dos reféns.
"Estas raparigas ainda estão no cativeiro do Hamas. Por favor, não desviem o olhar", disse aos jornalistas o porta-voz do governo israelita
, David Mencert. "Vejam o filme. Apoiem Israel a trazer o nosso povo para casa".

Segundo as famílias, as imagens, retiradas de um vídeo de duas horas, filmado pelos comandos do Hamas, apoiado pelo Irão, mostram as jovens, algumas com o rosto ensanguentado, sentadas no chão, de pijama e com as mãos atadas atrás das costas.

As famílias dos reféns temem os seus familiares não sobrevivam e que as mulheres possam ser violadas. O Hamas negou as alegações de abuso sexual por parte dos seus homens, e disse que o vídeo foi feito para avançar "narrativas fabricadas".

"As imagens revelam o tratamento violento, humilhante e traumatizante a que as raparigas foram submetidas no dia do seu rapto, com os olhos cheios de terror”, declarou o Fórum das Famílias Reféns na rede social X.

O Fórum das Famílias dos Reféns, que representa os familiares das 124 pessoas - a maioria civis - ainda detidas pelo Hamas, afirmou num comunicado que as imagens foram recuperadas de câmaras corporais usadas pelos atiradores que atacaram a base de Nahal Oz, no sul de Israel, onde as mulheres serviam como observadoras de vigilância.
As filmagens dos soldados israelitas mortos foram excluídas e a sua publicação foi aprovada pelas famílias dos cinco prisioneiros, acrescentou o fórum: "O Governo israelita não pode desperdiçar mais um momento; tem de voltar à mesa das negociações hoje!"
Milhares de israelitas juntaram-se aos protestos das últimas semanas, exigindo um acordo para trazer para casa os reféns ainda detidos em Gaza pelo Hamas, eleições antecipadas e a demissão imediata do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.
Em poucas horas, o gabinete de guerra de Netanyahu reuniu-se e autorizou um esforço para renovar as conversações,
que tinham tropeçado na exigência do Hamas de que Israel acabasse com a guerra de Gaza em troca de todos os reféns.

Estas imagens vão "reforçar a minha determinação em lutar com todas as minhas forças até que o Hamas seja eliminado, para garantir que o que vimos esta noite nunca mais volte a acontecer", afirmou o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu na sua conta na rede social Telegram, antes de reunir o seu gabinete de guerra na quarta-feira.

Netanyahu "deu instruções à equipa de negociação para regressar à mesa de negociações para obter o regresso dos reféns", avança a AFP que cita um funcionário do Governo israelita.

O ataque de 7 de outubro, perpetrado pelo Hamas a partir da Faixa de Gaza, causou as mortes de mais de 1.170 pessoas, na sua maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelitas. Das 252 pessoas tomadas como reféns em 7 de outubro, 124 continuam detidas em Gaza, 37 das quais mortas, segundo o exército.

Em resposta ao ataque, Netanyahu prometeu aniquilar o Hamas e o seu exército lançou uma ofensiva devastadora na Faixa de Gaza, onde o Hamas, considerado uma organização terrorista por Israel, pela União Europeia e pelos Estados Unidos, tomou o poder em 2007.

Pelo menos 35.709 palestinianos, na sua maioria civis, morreram nesta ofensiva, segundo dados do Ministério da Saúde do governo de Gaza liderado pelo Hamas.
Ataques de artilharia sobre Gaza durante a noite
Ataques aéreos e fogo de artilharia foram ouvidos em toda a Faixa de Gaza durante a noite, particularmente em Rafah (sul) e Jabaliya (norte), segundo os jornalistas da AFP, médicos e testemunhas, que também relataram bombardeios intensos na Cidade de Gaza.

Em Jabaliya, o exército israelita declarou ter "atingido vários terroristas do Hamas durante ataques a infraestruturas militares utilizadas para armazenar armas".

Em Nousseirat (centro), crianças inspecionavam os escombros de uma casa destruída por um ataque aéreo israelita na manhã desta quinta-feira.

Em Rafah, as forças israelitas, que iniciaram operações terrestres em 7 de maio, provocando a deslocação de 800 mil pessoas, segundo a ONU, continuaram a atuar nos bairros de Brazil e Shabura, de acordo com o exército.

Desde o destacamento, no mesmo dia, do exército israelita para o lado palestiniano do posto fronteiriço de Rafah, israelitas e egípcios acusam-se mutuamente da paralisação deste posto, por onde entrava a maior parte do combustível indispensável aos hospitais e à logística humanitária.

Segundo as agências de ajuda humanitária, as entregas estão também em grande parte bloqueadas nos postos de Kerem Shalom e Erez, do lado israelita. A ajuda também está bloqueada no lado egípcio da passagem de Rafah.

No entanto, o exército israelita afirmou esta quinta-feira que 371 paletes de ajuda humanitária, incluindo alimentos, tinham entrado na Faixa de Gaza na quarta-feira através de um porto temporário criado pelos Estados Unidos.

c/ agências
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